30 de agosto de 2012

O QUE FAZ UMA EMPRESA CRESCER

Por que algumas empresas fazem tanto sucesso e outras não? Comumente não paramos para pensar no sucesso que uma determinada empresa vem fazendo. Nós consumidores temos uma tendência natural de insatisfação e sempre estamos predispostos a criticar tudo que precisamos e consumimos. Mas por outro lado, nem sempre somos bem atendidos quando necessitamos de algum tipo de serviço. O bom atendimento é a alma precursora para o crescimento de uma empresa. Na verdade, não adianta ter bons produtos se não tem um atendimento de qualidade. É tão necessário, que toda empresa que pensa no futuro e pretende expandir o seu negocio, procura fazer-se presente perante o seu publico. Quem não aparece não é lembrado. Linguagem dos publicitários. Todavia, precisa-se de uma boa equipe de profissionais capacitados e bem remunerados, representando e fazendo a empresa crescer. 

Entretanto, não temos a menor idéia de onde vem o que usamos diariamente para nossa subsistência e nem conhecemos a origem dos produtos por nós consumidos. Não paramos para pensar objetivamente a respeito disso em nossas vidas. Nem imaginamos de como se da o sucesso de uma grande empresa. Quem na verdade eleva o nome da empresa? Uma boa campanha publicitária pode ajudar? Talvez a mais fácil de entender ou a mais inteligente. Trabalhar com bons produtos, também ajuda e muito. Mas de nada adianta tudo isso se não tiver um bom atendimento junto aos seus clientes. Diz o ditado popular, que a melhor campanha publicitária ainda é o boca a boca. Basicamente os objetivos de uma boa propaganda são o de informar, de convencer e o de motivar. Assim como um bom comercial é aquele que informa de maneira convincente e motivadora o seu cliente.

Existem diferentes formas de comunicação para a divulgação de marcas e produtos no mercado. Desde o patrocínio ao oferecimento de eventos culturais e artísticos prontamente associados ao produto à satisfação dos seus consumidores. Mas para isso é preciso ter funcionários realmente motivados que vestem a camisa da empresa literalmente. Se por exemplo numa empresa, os subordinados e gerentes chegarem à conclusão de que, durante a jornada de trabalho, deverão relacionar-se segundo os princípios da solidariedade, cooperação, diálogo e da igualdade entre as pessoas. Podemos dizer que todos estarão exercendo a ética e as normas morais. Esta ação enfatiza e exterioriza o lado bom das relações humanas. Tais atitudes deveria haver sempre e em todos os lugares, entre pais e filhos, patrões e empregados, homens e mulheres, etc. Praticar a ética é democrático e as normas morais estabelecem o caráter democrático.

Principalmente se essa empresa está no ramo de alimentos. A responsabilidade nesse caso ainda é maior, porque lida com o paladar refinado dos seus clientes, que na sua maioria não abre mão de uma boa comida e se possível ser bem atendido pelo garçom. O bom atendimento é vital para a concretização do negocio e o sucesso de qualquer empresa.

O atendimento é uma grande fonte de aumento das vendas para a empresa. Em um ambiente de alta concorrência, em que os produtos são muito similares em termos de características e preços, o atendimento passa a ser um grande diferencial.

Sempre me fiz esta pergunta, ao entrar em um restaurante. Como será o atendimento, além da comida é claro? Acho que todos nós pelo menos uma vez na vida tecemos algum comentário depois de uma boa refeição. Como é gostoso poder elogiar o bom atendimento, como é gostoso ser bem atendido.

Portanto, quero deixar registrado como sinônimo do bom atendimento e do respeito pelo cliente, minha homenagem a todos os funcionários que amam o que faz. A começar pelos garis, passando pelos juristas e chegando aos médicos que executam as complexas cirurgias no campo da medicina. Contudo, esta complexidade toda desaparece nas mãos de profissionais competentes e aplicados. Considero essas pessoas o cartão de visita e o marketing de qualquer empresa. Meu desejo é ver sempre pessoas com esse modo especial de tratar a todos os clientes ou pacientes, como só o bom profissional sabe fazer, sem preconceito, sem distinções e sem diferenças, o que nos deixa muito a vontade e plenamente satisfeito. Parabéns a todos aqueles que fazem e cumprem com amor a suas profissões.

27 de agosto de 2012

UM FIO DE ESPERANÇA


No ser humano coexistem duas forças antagônicas, sendo que uma o leva a ser ele mesmo, que o leva a se libertar das amarras introjetadas na sua personalidade e a outra que o impulsiona a manter a sombra do opressor também introjetada. As alternativas que restam são expulsar de si o opressor ou então mantê-lo dentro de si, que significa continuar alienado. Todavia, essa contradição que existe dentro do oprimido faz com que ele tenha medo da liberdade e do mundo ai fora.

Entretanto, nós somos resultado, isto é, produto de diversos fatores familiares e sociais. A nossa personalidade não é algo que se tem estático, mas o que se constrói de bom para a nossa vida. Como argumenta o teólogo Leonardo Boff: “ninguém vale pelo que sabe, mas pelo que faz com aquilo que sabe”. 

Conta uma antiga lenda que na Idade Média um homem muito religioso e honesto, foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor do crime era pessoa influente do reino. Por conseguinte, alguém no reino teve a idéia, desde o primeiro momento de se procurar alguém do povo para ser o “bode expiatório”, expressão usada quando alguém acaba pagando pelo que não fez. Que não deixa de ser uma idéia maquiavélica da classe dominante, que é mestre em justificar os fins sem se preocupar com os meios para alcançá-lo. Na verdade, era preciso acobertar o verdadeiro assassino.

No dia seguinte o homem foi levado ao julgamento, pressentindo o resultado e que seria injustamente condenado e levado a forca perante os seus algozes. Pois ele sabia que tudo seria feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo da corte.

O juiz que também estava combinado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado que provasse sua inocência. Disse o juiz: “sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos de Deus; vou escrever num pedaço de papel a palavra inocente e no outro pedaço a palavra culpado. Você sorteará um dos papeis e aquele que sair será o veredicto”. Deus decidirá o seu destino, determinou o juiz.

Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papeis, mas em ambos escreveu culpado de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance do acusado se livrar da forca. Não havia saída jeitosa para esse pobre inocente.

O juiz colocou os dois papeis sobre a mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e pressentindo que sua morte já estava decretada, aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papeis e rapidamente colocou na boca e engoliu. Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem. Logo veio a pergunta: “Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber qual o seu veredicto?” “É muito fácil”, respondeu o homem. “Basta olhar o outro pedaço de papel que sobrou e saberemos que acabei engolindo o contrário”. Imediatamente o homem foi libertado.

Portanto, por mais difícil que seja uma situação, não deixemos de acreditar até o ultimo momento. Saiba que para qualquer problema há sempre uma saída. Não podemos desistir e nem se deixar derrotar. Tudo na natureza age segundo leis, afirmava o filósofo alemão Immanuel Kant. Para ele só um ser racional tem a capacidade de agir segundo a representação das leis. Só o ser humano tem uma vontade que Kant chama de razão prática. Enfim, quem quer ver para crer, apenas espera acontecer. Quem crê para ver, faz acontecer.     

25 de agosto de 2012

A CONSCIÊNCIA DO TEMPO E DA EXISTÊNCIA

É muito comum dizer que o tempo passa e temos que aproveitar a cada minuto da vida. Mas, afinal o que é o tempo? Por que ele passa? Como ele passa? Talvez usamos essa metáfora, para fugir da ideia de que nós é que passamos, envelhecemos e morremos. Despistamos nossa consciência para a ideia de que é o tempo que passa. Comemoramos aniversários, natal e passagem de ano. Fazemos festa e trocamos presentes como que para exorcizar de nós a ideia de enfermidade da vida, como que para enganar-nos com a ideia de que é o tempo que está passando.

Entretanto, parece que temos medo de alguma coisa. É assim que sabemos que gostamos das coisas que a vida nos oferece, porque temos medo de perdê-las. Mas existem pessoas que sofrem de fixação neurótica, não consegue desprender do passado, atualizar a vida de forma positiva, alimenta-se com a dor do passado. Tem baixa tolerância a frustração e tornam-se pessoas amargas e rancorosas. Quer sempre ter razão ou invés de querer ser feliz. Acreditar faz a gente inventar um mundo novo, ter esperança e viver com alegria dentro do tempo que nos resta.

Santo Agostinho argumenta: “se ninguém me perguntar o que é o tempo, eu sei o que ele é; mas se me fizerem a pergunta e eu quiser explicar o que o tempo é já não saberei o que dizer”. Ele considerava o tempo de um ponto de vista psicológico. No entanto, só podemos afirmar sobre um tempo longo ou curto, tendo como referencial passado e futuro. Mas como falar do tempo longo ou curto se ele não existe? Todavia, o passado não existe mais e o futuro ainda não existe. Só podemos dizer que o passado foi longo e que o futuro poderá ser longo.

Para Santo Agostinho o tempo é considerado ontologicamente como algo em si mesmo, e eterno, indivisível, imóvel, que não passa. Só que o tempo em si mesmo o ser humano não tem acesso. Por isso é necessário estudarmos o tempo de um ponto de vida psicológico, isto é, o tempo tal como é dado ao ser humano percebê-lo com suas possibilidades mentais.

Santo Agostinho antecipa-se a Freud em mais ou menos uns quinze séculos, pois o pai da psicanálise afirmou no começo do século vinte, que o inconsciente desconhece divisões de tempo que apontem para o passado. Para Freud o que está no inconsciente está em estado permanente de presente e, é justamente porque não passou que segue atormentando nossa vida consciente. E mais ainda, que para o nível consciente o futuro não passa de uma necessidade de projeto que de vazão ao nosso instinto de eternidade ou de eternizar a vida.

Portanto, o que norteia a nossa vida é o presente, a existência resultante da nossa representação psíquica do que chamamos tempo. Esta realidade complexa chamada tempo é da maior importância para a compreensão da vida. Como argumenta Martin Heidegger, “o tempo é o próprio tecido da existência”, pois o ser humano ocupa um lugar no espaço e define sua realidade no fluir do tempo. Assim sendo, torna-se de todo indispensável que examinemos as modalidades que a realidade tempo assume na construção do nosso existir. Para nós o tempo não pode ser mais do que aquilo que nos é dado apreender de sua existência. Como diz o provérbio chinês: “o passado é história, o futuro é um mistério e o hoje é uma dádiva, por isso que se chama presente”.       

24 de agosto de 2012

SE FOR PARA SER FELIZ


Se for para esquentar, que seja no sol, de preferência ao lado de alguém especial. Se for para enganar, que seja o estômago. Se for para chorar, que chore de alegria. Se for para mentir, que seja a idade. Se for para roubar, que roube um beijo da pessoa amada. Se for para perder, que se perca o medo de revelar o amor que sente pelo outro. Se for para cair, que seja na gargalhada. Se for para existir a guerra, que seja de travesseiros com aquela pessoa especial. Se existir a fome, que seja de amor. Se for para ser feliz, que seja o tempo todo. Se possível ao lado da pessoa que te emociona. Porque o amor não é um sentimento qualquer, que se acha com facilidade todos os dias da vida, como se imagina que seja. Se quisermos a felicidade, temos que correr atrás e não esperar que ela bata a nossa porta. Isto é, se for para ser feliz é claro!

Portanto, ou nos confortamos com a falta de alguma coisa em nossas vidas ou lutamos para realizar todos os nossos desejos e prazer com a vida. Quem não consegue compreender um gesto, o valor de um silêncio, aquilo que nos faz falta para o nosso corpo e nossa alma. Assim como aquele bilhetinho carinhoso que postamos para alguém especial. Tampouco compreenderá o que é ser feliz. Porque para ser feliz não precisa de longas explicações. Basta simplesmente se deixar levar como um barco a vela em alto mar. O espírito que sopra esse barco lhe conduzirá ao encontro do outro DNA. Pois a escolha do outro é feita através do DNA, a chamada química. É ele que vai carimbar e selar esse amor, como um pacto de sangue. A natureza é sábia e por isso tem a sua lógica natural.

23 de agosto de 2012

AMOR DE MÃE


É com muita saudade que hoje presto essa homenagem a minha saudosa mãezinha, que nos deixou há dois anos, exatamente no dia vinte e três de agosto de dois mil e dez. Lembro-me como se fosse hoje, ela dando seu ultimo suspiro em meus braços, às doze horas e quinze minutos ela fechou o seu ciclo de vida aqui na terra.

Por sua própria natureza de mãe, seu amor foi incondicional. Naturalmente todas as mães amam seu filho porque é filho, foi gerado dentro dela. Mas independente disso mãe ama, não porque o filho tenha correspondido a qualquer expectativa ou preenchido determinadas condições. O amor incondicional é uma das mais profundas aspirações humanas, para qualquer mortal. Porque ele cuida da preservação da vida e do crescimento do seu semelhante. O amor incondicional não deleta o outro da sua vida. É o mais puro amor na face da terra. Foi uma grande lição que minha mãe me deixou.

Entretanto, tenho o privilégio de dizer que fui escolhido por ela. Pois sou filho do coração. Ela simplesmente me adotou com uma semana de vida. E depositou em mim o seu real amor incondicional. Não me pediu nada, simplesmente se entregou nesse amor.

Querida mãe, esteja onde estiver, olhe por mim, interceda por mim. Abrande o meu coração tão inquieto e sofrido. Ajude-me a encontrar a força que sempre mostrou ter ao meu lado. Você mãezinha querida, que viveu até aos cento e seis anos de vida. Ensinou-me a força ativa do amor, como uma ação que produz mudança numa situação existente pela energia humana que nela é empregada. Que esse amor não é um afeto passivo. Mas que transforma.

Maria mãe de Jesus Cristo foi pioneira na arte de amar. Mostrou para a humanidade o que é Amor de Mãe. A capacidade de ver uma pessoa tal como ela é, ter conhecimento de sua individualidade, preocupar-se de que cresça e se desenvolva como é e sem dominá-la. E o respeito só existe na base da liberdade. Mensagens de Maria mãe de Deus.

Portanto, querida mãezinha vou levar como aprendizado os seus ensinamentos na sua profunda humildade, serenidade e sabedoria: “Amor é Fecundidade; física, afetiva, comunitária e espiritual. Amor é comunhão; de idéias, de sentimentos e de corpos”. Contudo, peço de publico perdão a todas as pessoas que machuquei um dia. Porque a árvore do amor se planta no centro do coração e só pode derrubá-la o golpe da ingratidão. Sagrado Coração de Jesus, confio e espero em Vos.    

19 de agosto de 2012

A CAMINHO DO CENTRO CIRURGICO


Foi exatamente na madrugada do dia 17 de agosto de 2012, que tive um vislumbre concreto de que provavelmente não amanheceria vivo, tamanho era a dor que sentia no abdome. Senti que minha vida poderia encurtar por conta daquela dor. Foi um rápido insight de que talvez eu tivesse cumprido o meu ciclo, estava na hora de me retirar de circulação. No entanto, essa retirada poderia ser menos dolorosa e rápida. Como aconteceu com minha mãe em agosto de 2010. Tomou o seu banho trocou de roupa, estava preparando para ir ao médico e faleceu nos meus braços. Tudo muito rápido.

Por volta das quatro horas da manhã a dor era muito intensa, parecia claro pra mim que o meu fim estava chegando, pois eu estava sozinho e não tinha a quem recorrer. Será que eu teria de passar por um processo doloroso, cheio de sofrimento e perturbando todo mundo a minha volta? Isto jamais acontecerá. Minhas neuroses, meu mau humor, defeitos que tenho, foi sempre a preocupação de nunca incomodar ninguém. Tanto é verdade que fui sozinho para o pronto socorro. Não avisei as pessoas que amo, para poupá-los do sofrimento. Quando lá cheguei fui transferido imediatamente para o Hospital. O meu estado de saúde era grave. Teria eu de passar pela experiência de enfrentar a morte, visualizá-la por perto, rondando a minha vida? Desfazer-me aos poucos naquele momento me apavorava. Pensar que estava deixando pessoas que amo.

Quando cheguei ao Hospital, fui levado com urgência para o centro cirúrgico. Nesse momento tornou-se mais evidente a presença da morte. Da ambulância até a mesa de operação, foi uma longa caminhada. A caminho do centro cirúrgico, a maca atravessava por corredores gelados, porém o frio dentro de mim era maior. Por que demorava tanto para chegar à mesa de cirurgia? Entre uma agulhada e outra, fui desfalecendo aos poucos, porém ainda sentia um pequeno formigamento nos pés. O que me apavorava era sobreviver com seqüelas, transformado num vegetal lúcido, pois já havia passado por uma experiência igual alguns anos atrás com anestesia geral. Sofri um choque anafilático, uma reação alérgica, de hipersensibilidade imediata, que afeta o corpo todo, com a diminuição da pressão arterial e taquicardia em que há risco de morte.

Lutava contra a morte a cada instante, tinha de chegar intacto à mesa de cirurgia. Precisava vencer alguns metros de corredor até chegar ao centro cirúrgico. Naquele momento não sentia mais dor. Só pensava, por que tinha que enfrentar aquela cirurgia brutal? Por que de repente o mundo virou de ponta cabeça pra mim? Parecia que o efeito do pré-anestésico não estava funcionando como devia. Fiquei desperto, curioso e com medo. Chegando a sala de cirurgia, homens e mulheres de azul, enfermeiras de verde. Pensei, não quero olhar para os instrumentos cirúrgicos, nem sei onde estão. Como será a cirurgia? Devia ter perguntado, mas já estou ficando sonolento.

Atordoado, percebo a movimentação em torno. Tudo muito rápido. Nessa hora você sente que não é nada diante da morte. De que adianta o orgulho se você precisa dessas pessoas para continuar vivo? Para os médicos é apenas mais um paciente. A médica anestesista se aproxima e toma a minha mão esquerda e diz: “é só uma picadinha e depois mais uma agulhada na coluna e você vai ficar bem”. Imagina, quem fica bem nessa situação? Após alguns segundos começo a penetrar numa nuvem. Um rosto claro, um sorriso brilhante, uma voz que me diz: “Sou o médico que vai te operar tudo bem?” Como tudo bem se estou perdendo a consciência? Nesse momento salto para o escuro absoluto. Só fui acordar doze horas depois, por volta das dezenove horas, num leito de pós-operatório. Não sentia meu corpo da cintura para baixo. Fiquei apavorado, mas logo chegou à médica e descreveu o sintoma pós-operatório. Entretanto, pude compreender que fiquei na fronteira, entre a vida e a morte durante o tempo que estive no centro cirúrgico. Após ser observado por mais de vinte quatro horas, no dia seguinte às 16hs, tive alta. 

Portanto, a vida está cheia de caminhos cujos traçados temos que seguir, sem entendê-los bem, sem clareza. A maioria das pessoas não se pergunta sobre os caminhos, atalhos e vertentes pelos quais a vida nos conduz. Este é outro momento forte de minha vida que me chega nítido, apesar da distância das pessoas que amo. O que fica é o encontro com o que a vida tem de poético e de fugaz. A vida nos da, ela nos toma, ela revela, ela esconde, às vezes concede de novo. Fico triste quando as pessoas julgam sem conhecer a realidade dos fatos. A solidariedade nasce do meu interesse pelo outro e pela vida como um todo. Contudo, se readquiri o gosto pela vida, foi porque emanava dela uma força muito grande, enorme, que me arrancou da acomodação e me fez reerguer. Se hoje sou um novo homem é porque reconheço a minha fragilidade e impotência diante dos percalços da vida. Precisei passar por tudo isso para compreender o que é viver intensamente o dom da vida.  

4 de agosto de 2012

AMOR UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA


O amor no mundo contemporâneo tornou-se artigo de luxo. Quantas pessoas são capazes de viver um amor verdadeiro e de boa qualidade? Atualmente, o amor está cada vez mais escasso. E por que o amor está cada vez mais distante das pessoas de bem? Será o amor uma ameaça para os nossos instintos mais primitivos ou para a sociedade?

Entretanto, falamos do amor de Jesus Cristo a mais de dois mil anos, e nem de longe damos conta, que ele morreu por nos ensinar o amor e por nos amar demais. A sociedade organizada em pirâmide torna a todos inimigos um do outro. Somos competidores e cruéis ao mesmo tempo, não nos importando com o nosso próximo e curiosamente nem conosco mesmo.

Certa vez perguntei aos meus alunos se poderiam me dizer se estavam satisfeitos com o corpo que tinham e com a vida que estavam vivendo. O meu assombro é que nesse grupo de pessoas belas e sensíveis 80% ou mais disseram que estavam insatisfeitas com o seu corpo e que gostariam de ser outra pessoa e morar em outra cidade ou pais. E que a vida que estavam vivendo naquele momento não tinha a menor graça. Acho lamentável constatar isso entre os jovens.

Podemos não ter o corpo que gostaríamos de ter ou a altura, mas você é o melhor que você tem. E quando reconhecer isso estará progredindo. Não conheço nenhuma escola que ensine o respeito por si mesmo. Sempre que olhava para os meus alunos, tinha uma sensação de que a primeira ponte que temos que construir é a ponte para dentro de nós mesmos.

Acho simpática essa idéia da ponte. Minha primeira aula de catecismo foi introduzida por um padre. Lembro-me até hoje dessa aula de catequese onde o padre dizia o seguinte: “Deus saiu da eternidade e entrou no tempo e na história, se fez homem na pessoa de Jesus, viveu entre nós e pregou o amor e a paz entre os homens. Mostrou que o primeiro amor da minha vida sou eu, só assim posso amar incondicionalmente o meu próximo, a partir do amor que tenho por mim.” Tarefa difícil, mas não impossível, amar o outro como a ti mesmo. Vamos além, dizia ele: “Vou para o Pai preparar-vos uma morada, pois na casa do meu Pai há muitas moradas”. Fiquei encantado com essa ideia de ponte entre o mundo material e o mundo espiritual. Penso que as relações humanas duradouras são marcadas por essa ponte. Uma ponte que exalte nossa humanidade, que exalte nossa imperfeição, nossa solidão e acima de tudo nossas carências afetivas e de proximidades com o outro.

Há um local distante, chamado Chayah, no centro da Tailândia, perto da fronteira da Malásia. No meio de um vasto lençol de água há uma ilha e nela um mosteiro budista. Todavia, não há água potável nessa ilha e esta tem que ser levada do continente por barco e guardada numa grande cisterna.

Certa vez caminhando pela ilha, o mestre budista conta a seguinte história para seu discípulo: “Você trabalha o dia todo e volta louco de sede, querendo beber um pouco dessa água preciosa, que você sabe que não pode desperdiçar. Abre a cisterna, estende a mão com sua conchinha e vê uma formiga dentro da cisterna. Você fica furioso! Exclama: Que atrevida, estar na minha cisterna, sob a minha arvore, na minha sombra, na minha ilha e com a minha água! Nesse processo de fúria você esmaga a formiga. É um indicador que você está ligado a matéria. Ao contrário, você pensa antes de esmagar a formiga e diz: O dia está muito quente e este é o único lugar mais fresco da ilha. Temos água o suficiente que dá para todos nós e depois a formiga não está estragando a minha água. Então, calmamente você pega a água em volta da formiga e bebe. Você está desligado da matéria. Estabeleceu uma ponte para o espiritual. Também pode ser chamado de não ligado a matéria”.

Entretanto, penso que no momento em que se abre a cisterna e vê a formiga, a pessoa que estabeleceu essa ponte entre o material e o espiritual não vai pensar no bom, no mau, no certo ou no errado. Imediatamente num gesto de generosidade além da água, vai dar um torrãozinho de açúcar à formiga. O gesto mais sublime da humanidade, amor e compaixão. Temos que começar a reconhecer que o outro é a única pessoa que pode dar o torrãozinho de açúcar de que preciso e que posso fazer o mesmo pelo meu próximo. Se não construirmos essa ponte, esse sentimento tão nobre está fadado a desaparecer mais ou menos depressa. Somos tão menos, quanto um sem o outro.

Portanto, tudo começa acontecer dentro de cada um de nós, com essa grande ponte que nos leva a todos e assim formamos uma corrente solidaria e salvamos o amor. Se eu crescer cada vez mais, poderei lhe dar mais de mim. Hoje estudo e aprendo para lhe ensinar mais. Procuro a sabedoria para poder encorajar a sua verdade. A cada dia torno-me mais ciente e sensível para poder melhor aceitar a sua sensibilidade e ciência. Luto diariamente para compreender a minha humanidade, para poder compreender o outro, quando me revelar que também é humano. Vivo num assombro continuado perante a vida, para permitir que o outro também exalte a sua vida. Enfim, saia do você e entre no nós. É o modo mais belo se ver e ajudar os outros a se verem.                

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...