27 de abril de 2011

A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

      A palavra personalidade parece ter sua origem na persona, nome da mascara com que os atores do teatro romano antigo representavam seus papéis. A personalidade está relacionada com a aparência externa da pessoa. Embora, existem estudos que demonstram diferentes significados. Para o psicólogo Gordon W. Allport, personalidade significa o conjunto de hábitos, atitudes e traços que determinam o ajustamento de uma pessoa a seu ambiente.
      Em psicologia, personalidade é o conjunto de nossos modos de agir, especialmente para com outras pessoas. Ela resulta das experiências e influencias que recebemos durante toda a nossa vida. Portanto, a palavra personalidade consiste na formação, relativamente em longo prazo, em que uma pessoa se envolve em relações afetivas entre indivíduos. A personalidade pode ser estudada, compreendida e por vezes modificada somente na base de contatos pessoais, que é denominada pela sociologia como interação social. Para falar da formação da personalidade, destaco quatro grandes pesquisadores: S. Freud, H. S. Sullivan, E. Berne e Thomas A. Harris. Vou citar principalmente os dois últimos que procuraram analisar o que acontecia entre os indivíduos.
      Tanto Freud como Sullivan, estava preocupado em analisar e entender a personalidade. Enquanto um se preocupava em observar o que acontecia dentro das pessoas, o outro analisava o que acontecia entre as pessoas. Berne pega o gancho de Freud e Sullivan e constrói uma nova teoria. Determina que as experiências nos sete primeiros anos de vida levam o individuo a uma tomada de decisão que norteará a sua existência fatalmente. A partir dessas observações, Berne achava possível que toda criança assumiria perante a vida o que ele chamou de posições existenciais.
      Foi em 1957 que Berne apresentou nos Estados Unidos, seu método psicológico que chamou de “Analise Transacional” e tinham como objetivo solucionar problemas emocionais de ajustamentos. Esta denominação transacional vem de transa no sentido de comunicação entre duas ou mais pessoas. Berne classificou as posições existentes das seguintes maneiras: Primeiro: são pessoas ao se compararem com os outros, sentem-se inferiorizadas. São dependentes e sentirão sempre uma grande necessidade de serem reconhecidas. Crianças que se sentiram e não que foram de fato rejeitadas pelos pais, têm dificuldades quando adultas de dar e receber atenção, dar e receber afeto e principalmente de se entregarem no amor: Elas não cofiam em si mesmas. São pessoas que não se considera OK, sente-se insegura, somente o outro que é OK.
      Segundo: são pessoas que não se sentem OK, assim como as demais pessoas também não são OK, são pessoas que desistem com facilidade de buscar carinho e outros estímulos para suas vidas. Quando criança essa pessoa viveu em estado de abandono e dificuldade. São pessoas sem esperança, confusas, inadequadas, deprimidas. Não acreditam nelas e nem nos outros, podendo chegar ao suicídio.
      Terceiro: nesta posição, essa pessoa se considera OK e para ela os outros não são OK. Foram pessoas freqüentemente agredidas pelos pais e sentem raiva de tudo e de todos. Experimentaram brutalidade dos adultos e sobreviveram sozinhas. Não confiam em ninguém a não ser em si mesma. A criança espancada é uma criança programada para o homicídio. Estamos nos referindo à criança que foi repetidamente espancada de um modo tão brutal que sofreu ferimentos e ossos quebrados. Foram profundamente violentadas física e psicologicamente Na criança são registrados sentimentos de terror, medo e ódio. Afirmam os especialistas que essas posições assumidas antes do terceiro ano de vida são decisões inconsciente e não-verbais.
      Quarta e última posição: aqui a criança se acha OK, assim como todos os que a cercam. Foram colocadas em situações onde se saíram muito bem lá na sua primeira infância. Podendo provar a si mesmas e aos outros que são realmente OK. Sua vida é baseada no pensamento, na fé e principalmente no risco da ação. Como argumenta Thomas Harris: ”é difícil crer que as pessoas sejam importantes, e também é difícil acreditar que não o sejam. Negar a importância das pessoas é negar todos os esforços que fazemos em benefícios delas”. Portanto, as carícias são absolutamente necessárias à nossa sobrevivência. Um sorriso, uma palavra confortante, os gestos seguramente, constituem carícias. No entanto, as primeiras carícias são recebidas durante a infância e são mais sob a forma de contato corporal. São positivas porque trazem alguma satisfação à pessoa, pois, de certa forma, expressam que ela está OK. São pessoas que se sentem livres para aventurar numa relação a dois, sem criar expectativas se vai ou não dar certo. Para essas pessoas, não existem o medo do outro e sim a possibilidade de amar o outro.
       Enfim, crianças e adultos carentes de carícias, esforçam-se para dar e receber atenção dos outros, mesmo que sejam censuradas. Tudo que elas não querem é serem ignoradas como pessoas.

26 de abril de 2011

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

A filosofia nasceu no dia em que o homem tornou-se um ser consciente. O homem é verdade, foi sempre um ser intelectual, mas, em tempos remotíssimos, a sua inteligência se achava ainda em estado potencial, dormente, assim como a futura planta existe, em estado embrionário, ainda enquanto semente.

O homem tornou-se o “filósofo atual” quando nele despertou a inteligência adormecida, embrionariamente – fenômeno esse que não se deu ao que sabemos, com nenhum outro ser deste planeta.

Este dotado apenas de sentido orgânico, não percebe senão coisas individuais, concretas, geralmente classificadas como físicas ou materiais. Os sentidos só percebem a multiplicidade das coisas, mas não percebem nenhuma unidade no mundo. O homem, embora perceba também essa mesma pluralidade, objeto em seus sentidos, a concebe através da pluralidade periférica e da unidade central do cosmos.

Perceber essa unidade do universo através da sua pluralidade é que é ser filósofo, isto é, philos = amigo, amante – da sophia = sabedoria. Quem experimenta essa realidade através das aparências, o centro do mundo através das suas camadas periféricas, é um filósofo, um amigo da sabedoria, portanto, um bandeirante da realidade, um pesquisador, ou mesmo um perseguidor da verdade.

Conhecereis a verdade – e a verdade nos libertará. Palavras ditas por Jesus Cristo. Para o filósofo e educador Humberto Rohden, somente através da posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro é escravo. De maneira que a verdade em filosofia torna o homem essencialmente livre.
      
Os sentidos percebem a inteligência “concebe” – esse prefixo “com” indica uma ação em conjunto, supõe as coisas, entre as quais existe um vínculo que as une.

Segundo Humberto Rohden, argumenta no livro: ”O Pensamento Filosófico da Antiguidade”, os sentidos, por exemplo, percebem a existência de uma semente e de uma árvore, e nada mais. Estas duas coisas afiguram-se aos sentidos como dois ser inteiramente separados, desconexos, sem nenhuma relação ou nexo um com outro. Por vezes, os sentidos percebem que uma dessas duas coisas vêem uma depois da outra, como a árvore vem depois da semente, igualmente a ave vem depois do ovo; isto quer dizer que percebem uma sucessão cronológica de fenômenos.

A inteligência, porém, verifica não apenas essas duas coisas interligadas pela percepção sensitiva, mas verifica-se, além disto, uma terceira realidade, um nexo lógico entre os dois primeiros; percebem-se, então, não a existência de ambos independentes entre si, mas também devido à existência do anterior. Em outras palavras, a inteligência possui a faculdade de descobrir que um ser é devido ao outro, de modos que o segundo deve sua existência ao primeiro. A sucessão cronológica é algo pessoalmente externo – o nexo lógico é algo interno.

Mais tarde, verificaremos que a sucessão cronológica é baseada na categoria de tempo e espaço, embora o tempo e espaço não se tornem um simples atributo ou modo de agir de nossos sentidos. Essa sucessão cronológica é meramente aparente - ao passo que o nexo lógico é profundamente real. Isto significa dizer que a inteligência descobre algo incomparavelmente mais real e verdadeiro do que os sentidos possam perceber. Desta forma, a percepção sensitiva e é meramente evidenciada, de modo que a concepção intelectiva é real. Então, a metafísica é mais real que a física. 

Para o homem simples, sem cultura filosófica, real é sinônimo, ou até homônimo, concreto, individual, material e físico – ao passo que o abstrato, torna-se o imaterial, o metafísico equivalendo para ele, o irreal, o fictício, o quimérico. Existe mesmo uma inteira orientação na filosofia empirista que defende a tese de que real é aquilo que é verificável pelos sentidos, e que tudo que não é sensitivamente verificável não é real. Será isto filosofia – ou apenas jardim de infância da filosofia?

Para o empirista, a ligação de casualidade entre dois seres concreto não é real, mas puramente fictícia, irreal, não passa de uma criação arbitrária da mente humana. David Hume, nega terminantemente a realidade objetiva da chamada relação causal. Real é para ele, e para todos os empiristas, aquilo que os sentidos podem perceber, isto é, coisas e fenômenos concretos, individuais. Não há realidade abstrata, dizem, só existe realidade concreta. Abstrato é para eles, sinônimo de irreal, como concreto é idêntico a real.

Entretanto, é um fato que todas as atividades tipicamente humanas – ciência, arte, religião, filosofia, cultura, civilização e etc. – têm por base a percepção da relação causa e efeito existente entre a ligação concreta em relação à natureza. Sem essa percepção, não haveria cultura e civilização humana. Supondo que o nexo de causa e o efeito sejam mera ficção ao nosso cérebro, sem base alguma no plano objetivo, teríamos de admitir que todas as atividades tipicamente humanas, seriam simplesmente ficção. Se assim fosse, qual seria a razão dos seres irracionais por não possuírem a mesma cultura e civilização que o gênero humano arquitetou sobre a face da terra?

Para Aristóteles, o que faz a diferença entre os seres do universo não é aquilo que representam atualmente, mas, sim, o que podem vir a ser, isto é, já são em potencial. Não o ato, mas a força é que cria enorme diferença entre os seres do mundo.

Portanto, a filosofia nasceu com o despontar da inteligência individual, mas atingirá a maturidade e plena evolução com a vitória final da razão, isto é, o da consciência cósmica. 

24 de abril de 2011

O AMOR ROMÂNTICO E O PAR IDEAL

      O amor romântico povoa as mentalidades do Ocidente desde o século XII, mas só pode fazer parte do casamento na década de 1940 para cá. O problema desse tipo de amor é que ele não é construído na relação com a pessoa real, mas sobre a imagem que se faz dela. Acredita-se que só é possível ser feliz vivendo-se um romance, que traz a ilusão do amor verdadeiro. São várias as mentiras que o amor romântico impinge para manter a fantasia do par amoroso idealizado, na qual duas pessoas se completam e nada mais está lhe faltando.

      E quais seriam essas mentiras? Na verdade, são afirmações absurdas em torno desse amor romântico. Primeiro, que só é possível amar uma pessoa de cada vez. Segundo, que quem ama não sente desejo por mais ninguém. Terceiro, que o amado é a única fonte de interesse do outro. Quarto, que quem ama sente desejo sexual pela mesma pessoa a vida inteira. Quinto, que qualquer atividade só tem graça se a pessoa amada estiver presente. Sexto e ultimo, que todos devem encontrar um dia a pessoa certa. E onde existe essa pessoa? Como nenhuma dessas afirmações corresponde à realidade, em pouco tempo de relação, as pessoas se decepcionam e se frustram. Embora existam pessoas que ainda acreditam nisso, está surgindo uma nova forma de amar e viver melhor, cujos principais ingredientes são amizade, companheirismo e solidariedade.

      Não há duvida que amor e sexo não sejam compatíveis, que um não necessita do outro. Que casamento e sexo são absolutamente incompatíveis. Evidentemente, que existem casamentos em que o sexo é ótimo, mas não podemos discutir idéias baseados em exceções. Na grande maioria dos casos, o sexo no casamento é uma tragédia. Eu arriscaria até a dizer que o casamento é o lugar onde menos se faz sexo e, quando se faz, geralmente é o de pior qualidade. É enorme o número de mulheres que fazem sexo com seus maridos sem vontade alguma, só por obrigação. Penso que isso se deve não só à rotina e à excessiva intimidade, mas, principalmente, à cobrança de exclusividade. E as pessoas se tornam emocionalmente dependentes umas das outras. A certeza da dependência do outro torna a relação estável demais. Não há um grau necessário de insegurança, o que motivaria a conquista e a sedução. Não existe receita como afirmam alguns psicólogos, aconselhando para “ser criativo”. Isso não passa de frase de efeito. É o desejo que gera a criatividade, e não o contrário.

      Todos sabem que o casamento, na maioria dos casos, traz mais infelicidade do que alegria. É só olhar em volta. O casamento obriga homens e mulheres a viverem dentro de regras e normas estabelecidas, visando ao controle da liberdade de cada um. É na área afetiva e sexual que as limitações são mais claras. Você só deve amar uma única pessoa durante anos e, somente com ela, pode fazer sexo. É comum várias pessoas terem características que nos satisfazem e nos atraem sexualmente. Então, fica difícil cumprir essas exigências. O resultado é muita gente infeliz, sem prazer de viver, recorrendo a antidepressivos e ansiolíticos. O casamento só pode funcionar bem e durar muito se for como sempre foi: uma união por interesses políticos e econômicos. O casamento não foi criado para a felicidade humana. Os problemas surgiram quando o amor passou a fazer parte dele. Essa novidade de se misturar romance e expectativa de satisfação sexual com casamento dificilmente vão dar certo. São ingredientes totalmente incompatíveis com a união estável que, durante séculos não se duvidou disso. Basta puxar pela nossa história, que não é nem um pouco atraente.

      Pelo andar da carruagem, não tenho dúvidas de que as relações amorosas do futuro serão mais livres e, por isso mesmo, mais satisfatória. É importante que as pessoas fiquem juntas pelo prazer da convivência e não por dependência. Cada um deve ter direito a vida própria, a amigos e programas separadamente. Penso que a cobrança de exclusividade sexual deva deixar de existir. O proibido estimula a curiosidade.

      Em um casamento, o companheirismo, a solidariedade e o carinho vão aumentando na mesma medida em que o desejo sexual vai diminuindo. A certeza de posse e de exclusividade que faz as pessoas se sentirem garantidas no casamento e leva à acomodação, inibindo o desenvolvimento de uma vida sexual criativa com o parceiro. Não existindo mais o estímulo da sedução e da conquista, o sexo vai se deteriorando. Portanto, como afirma à psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o número de homens e mulheres casados que têm relações extraconjugais ocasionais é enorme e, hoje, o percentual de mulheres praticamente se nivela ao dos homens. Isto implica que tanto os homens quanto as mulheres, sonham com a poligamia. Está na natureza e na essência  humana.   

23 de abril de 2011

A NATUREZA DA FILOSOFIA

A tarefa da filosofia é por pensamento no mundo, ou seja, colocar as pessoas para pensarem. Sem a pretensão de achar que vamos encontrar a solução para os problemas que mais afetam a humanidade.
Na vida cotidiana, às vezes precisamos tomar decisões rápidas, sem perder muito tempo com reflexões e questionamentos. Mas, quando uma pessoa ou uma sociedade entra em crise estimula a reflexão. E ela é necessária e deveria acompanhar o cotidiano sempre que possível.
A filosofia, desde as suas origens na Grécia Antiga, requer uma mudança do olhar e de nossas relações na vida e com o conhecimento. A natureza real da filosofia é causar certo estranhamento frente à realidade desde os fatos mais simples ou aparentemente já sabidos. Há, aqui, uma atitude, em que o pensar é desafiado para além de si mesmo. Filosofia é um convite ao diálogo diante de certa perplexidade e admiração que nos envolvem no dia - a - dia.

A consciência humana inventou a linguagem, a arte, a história e a cultura. Além de tudo isso, também criou a escravidão, a queima de bruxas, o Holocausto e o bombardeamento de Hiroxima. Dentre todas as espécies, o ser humano é o único que mata seus semelhantes em nome da religião, do mercado livre, do patriotismo e de outras tantas idéias abstratas e absurdas.
Gradualmente desenvolvemos a capacidade do pensamento abstrato, a capacidade para criar um número interior de conceitos, de objetos e de imagens de nós mesmos. Na medida em que esse mundo interior tornou-se cada vez mais diversificado e complexo, começamos a perder o contato com a natureza e transformarmos - nos em pessoas perversas e gananciosas. Sobretudo, perdemos a capacidade de cooperação, criamos uma personalidade cada vez mais fragmentada.
Na natureza, todos os membros de um organismo vivo estão interligados numa vasta e intrincada rede de relações, a chamada teia da vida, estudado com profundidade pelo físico e filósofo Fritjof Capra, que tem desafiado as visões convencionais da evolução e organização de sistemas vivos. Capra desenvolveu novas teorias com implicações filosóficas e sociais revolucionárias. Em o livro chamado: “A Teia da Vida”, ele nos propicia uma síntese brilhante de descobertas científicas recentes. O comportamento de cada ser vivo do ecossistema depende da relação de muitos outros. O sucesso da comunidade está ligado ao sucesso de cada indivíduo, enquanto este resultará da comunidade como um todo. Desta forma a lição em relação às comunidades humanas é obvia. Cada um de nós somos os responsáveis pela a harmonia do todo. 
Para recuperar nossa plena humanidade, temos de restaurar nossa experiência de relação entre a sintonia e reflexão, com a natureza. Essa re-ligação ou religião em latim é a própria essência do alicerçamento espiritual do homem com o meio ambiente.
Portanto, a filosofia nos põe a pensar. Essa luta do ser humano consigo mesmo não é uma tragédia nem fracasso da criação. Ela é da íntima natureza humana. O ser humano é a única criatura terrestre inacabável, jamais plenamente realizado. A natureza o fez o menos possível para que ele possa melhorar-se o máximo possível.

21 de abril de 2011

O PERFIL DO MACHÃO

      A lógica do machão é a da posse, do domínio. Sua meta é conseguir o máximo possível de objetos que possa lhe dar status, na esperança de suprir o vazio de um corpo sem energia vital.

      Os sites de relacionamentos vêm pondo em relevo o quanto os homens machões estão deixando a desejar. Além de medrosos, é precária e primitiva sua relação com a mulher. A grande maioria evita o contato direto com o feminino. Age violentamente contra a mulher, fazendo propostas na sua maioria indecente. O seu ego é narcisista e para inflar seu corpo de vida, ele agride com suas grosserias, machucando a sua natureza e supostamente aquela que poderá ser sua companheira. Todavia, a história da sexualidade humana desde os primórdios, privilegia os homens criando-se um arquétipo de herói, guerreiro ou samurai. Com isto ele quer impressionar suas fêmeas.

      Se a mulher percebesse a força que tem, sentiria mais protegida, mais competente e muito mais senhora da situação. Não ficaria com aquela cara, o que é que eu faço?

      O problema é que desde o começo a mulher sempre foi inferiorizada, mantida na posição de oprimida, explorada e humilhada. Na verdade o que o homem tem mais que a mulher é a força física, a brutalidade e a grosseria. Se ela não faz como ele gosta, ela apanha ou é humilhada perante seus amigos.

      Na Grécia Antiga, que é tida como o berço da civilização, da liberdade e da democracia, a mulher já não era respeitada. Imagine se a mulher podia opinar ou pelo menos votar! Por definição, a mulher era burra, incompetente. Isto mudou? Não mudou quase nada! Todos os dias surgem na mídia casos de espancamentos e outros tipos de violência contra a mulher.

      A mulher precisou desenvolver habilidade especial para perceber e compreender o seu senhor pelos gestos, caras e tons de voz. É como um cão que entende o seu dono pelo tom de voz, gesto e modos – que me desculpem as mulheres – ainda hoje conheço mulher que na frente do marido é uma coisa, longe dele ela é completamente outra, até seu semblante muda para melhor. Mas infelizmente é assim mesmo que elas se comportam.

      Isto acontece só aqui no Brasil? Não! Antes fosse. Outro dia visitando um site de pesquisa, li um anúncio de uma Associação para Mulheres. Dizia o texto que nos EUA a cada dez segundo uma mulher é espancada pelo marido ou namorado. A pesquisa não diz, mas garanto que elas apanham muitas vezes também do pai.

      A pergunta que se faz é: “Quantos homens são capazes de ouvir uma mulher dizer fulano é melhor que você?” Será que o machão padrão aceita numa boa? Pelo o que conheço dos homens, posso dizer que não. O machão não suporta saber que o outro é melhor. Mesmo porque, ele nunca perguntou para a mulher o que ela pensa dele. Por medo!
      Os homens na sua maioria têm uma péssima maneira de olhar e tratar a mulher. Ainda nos dias de hoje uma conversa de homens sobre mulheres é um horror. Até parece que mulher é um negócio para você usar e contar para os amigos que as usou. Contudo, nos piores termos possíveis, com as piores caras. Sem falar de homens estúpidos, que espancam mulheres com certa facilidade. Talvez aqui seja o começo de todas as loucuras humanas. As pessoas se anulam para viver a vida do outro. Triste fim.

      Portanto, ninguém pode dizer que é feliz num mundo infeliz. O mundo só começará a se fazer humano quando tivermos consciência e passarmos a agir com amor, gentileza e respeito. Assim, teremos um mundo mais feliz. Que me perdoe os machões, mas se continuarem assim, certamente estará fadado ao fracasso e a perda. Todo machão é um corno potencial.  

18 de abril de 2011

INDEPENDÊNCIA EMOCIONAL

          Walt Disney produziu um filme que foi lançado em 1953, com duração de 33 minutos. Escrito e dirigido por James Algar, chamado “Bear Country”. Para compor uma série de documentários sobre a natureza. O filme mostra uma ursa mãe que acompanhava os seus dois filhotes, através dos primeiros meses da vida das crias. A mamãe ursa ensinou os filhotes como caçar, pescar e subir nas árvores. Ensinou-lhes a se protegerem quando se vissem diante de perigo. Depois, um dia, a mamãe ursa, por suas próprias razões instintivas, decidiu que era hora de ir embora. Obrigou os filhotes a subirem numa árvore e, sem mesmo olhar para trás, partiu. Para sempre!
          Em sua mente de ursa, ela achava que sua responsabilidade materna havia cessado. Não tentou manipulá-los, forçando-os a visitá-la aos domingos alternados. Não os acusou de serem ingratos, nem ameaçou ter um colapso nervoso se eles a desapontassem. Simplesmente deixou que eles se fossem. Por todo o reino animal, a função dos pais é de ensinar aos rebentos as habilidades necessárias à vida independente e depois afastar-se. Conosco, os seres humanos, o instinto da independência continua a ser o mesmo, mas a necessidade neurótica de possuir e de viver a própria vida através dos filhos parece dominar os pais. Com isso a meta de criar um filho para ser independente é subvertida na idéia de criá-lo para apegar-se a ele.
          Para ilustrar: aos quatro anos, a pequena Maria Eduarda vai sempre procurar papai e mamãe quando se machuca, ou quando precisa de qualquer espécie de apoio emocional. Ela mostra sua alma aos nove anos e, embora queira ser considerada uma menina grande, também quer ter o apoio dos pais carinhosos. Seu conceito pessoal está sendo desenvolvido através das impressões de seus pais e de outras pessoas importantes na sua vida. De repente Maria Eduarda tem quatorze anos. Volta para casa chorando por causa de uma briga de namorado e corre para o quarto batendo a porta. O pai vai atrás e pede-lhe que diga o que houve, na sua maneira habitual de pessoa interessada. Mas agora ele ouve de Maria Eduarda, em termos muito claros: “Não quero falar sobre isso. Deixe-me só”.
          Em vez de o pai compreender que essa pequena cena é prova de que ele tem sido um pai atento e que a pequena Maria Eduarda, que sempre contou todos os seus problemas, está agora lidando com eles sozinha. O pai fica desesperado. Ele não está preparado para a desvinculação, para deixar Maria Eduarda resolver as coisas a seu modo, com independência. Ainda vê na sua filha aquela mesma criança que era há tão pouco tempo.
          O desejo da filha de sair do ninho é forte. Mas, quando o sentimento de posse e de sacrifício é o lubrificante da máquina familiar, o ato natural de partir transforma-se numa crise. Abandonar o ninho numa atmosfera psicologicamente sadia não envolve nem crise, nem agitação; é a conseqüência natural de viver adequadamente.
          Mas quando a culpa e o medo do desapontamento colorem o abandono do ninho, eles permanecem a vida inteira, algumas vezes a ponto de tornarem o casamento uma relação que dois indivíduos partilham em igualdade de condições.
          Dorothy Canfield Fisher resumiu isso perfeitamente em seu ensaio “pai não é uma pessoa em quem se apoiar, mas uma pessoa que torna o apoio desnecessário”.

16 de abril de 2011

SONHO DE MENINO

          “O menino quer um burrinho para passear. Um burrinho manso, que não corra nem pule, mas que saiba conversar. O menino quer um burrinho que saiba dizer o nome dos rios, das montanhas, das flores, de tudo o que aparecer”. No poema “O Menino Azul”, de Cecília Meireles mostra o que toda criança precisa: amizade, companheirismo, acreditar no adulto. Abandoná-la é um ato de violência, tanto quanto espancá-la.
          Penso que os adultos, principalmente os pais, precisam conhecer melhor a criança e o adolescente. O conhecimento é o fundamento de toda educação verdadeira.
          Para falar dessa questão, quero começar com um dado espantoso sobre o adolescente. Metade dos crimes que são registrados nas delegacias de policia em todo país, são cometidos por pessoas com menos de vinte anos, isto é, por adolescentes. Além dos registros oficiais, existem outros tipos de violência. Nos estádios de futebol, torcidas organizadas se pegam, gangs de bairros que se procuram e jovens que saem de casa para dar pancadas, cometer delitos. Com todos esses casos, sem levar em conta os registros das delegacias, conclui-se que noventa por cento dos atos violentos são cometidos por adolescentes. A educadora Heloisa Reis escreveu um livro chamado: ”Futebol e Violência”, resultado de dez anos de pesquisa, sobre os tipos de violências relacionados a organizações de espetáculos futebolísticos. Ela relata os mais diversos episódios violentos cometidos por jovens em estádios de futebol. Esse é um dado básico para sustentar tudo que vou dizer sobre a violência cometida por adolescentes.
          Segundo os especialistas, dos quatorze aos dezesseis anos é a fase em que os hormônios atingem a taxa mais alta no sangue. Na cultura indígena, o menino aos quinze anos faz o rito de iniciação e daí para frente é considerado um homem. Passa para o grupo dos homens. A menina índia com doze ou treze anos já tem o nenê no colo.
          Vamos lembrar a história de amor “Romeu e Julieta”. Romeu tinha quatorze anos, Julieta, treze anos. Enquanto as duas famílias brigavam entre si, os adolescentes se amavam numa boa.
          Qual a conclusão disso? Exigir que o adolescente ficasse bonzinho em casa ao lado da mamãe, que vá à escola, estude direitinho, não dê preocupação é a coisa mais ilusória do mundo. O que se consegue com essa pressão, são quatro coisas, uma pior que a outra.
          Primeira: existem alguns jovens mais sensíveis, frágeis, medrosos, que fatalmente serão os trouxas da vida. Vão ser explorados sempre. Os bonzinhos, modelos para a família. Segundo: o jovem rebelde que acha tudo ruim, não faz nada do que se pede, dá trabalho para todos em casa. Inventa encrenca o tempo todo, briga com os irmãos. Está sempre de mau humor. Terceiro: aquele jovem que se mete no quarto e não quer saber da vida. Tem lá o seu som. O quarto é um chiqueiro. Ele não quer que entre ninguém, não faz nada e não quer nada. Não se sabe o que está fazendo ou pensando.       Quarto e último: o tóxico. A maconha, que é a mais comum, já que a cocaína é mais pesada e mais cara. Na verdade o uso das drogas é conseqüência direta do tédio da vida. Quem tem uma vida absolutamente sem colorido, sem graça, monótona e chata, usa o tóxico para ver se acha uma ilusão de qualquer coisa mais interessante.
          A opinião das pessoas quando se propõem ou se lembra um atrito sério entre pais e filhos é sempre a mesma coisa. Está pressuposto que os pais sofrem muito e que o sofrimento dos filhos não tem importância. Os pais têm sempre razão e os filhos são sempre os culpados. Ora, pais que esperam coisas tão absurdas dos filhos só podem ter desilusões na vida. Precisamos aprender a nivelar essa relação entre pais e filhos. Estabelecendo uma relação de troca de papeis. Um se colocando no lugar do outro. Quantas vezes deixamos de olhar nos olhos de quem nos fala! Quantas vezes, por isso mesmo, não criamos laços afetivos com nossas crianças! As crianças são os nossos melhores filósofos, por que são mais observadores do que os adultos. 

15 de abril de 2011

OS PAIS PROBLEMAS

          A criança é o “alvo” favorito da humanidade, desde o momento da fecundação. Alguns especialistas defendem a ideia que o melhor seria tratá-la como visita ou como um estranho – com esses somos educados – e teríamos mais cuidado com o que fazemos a elas. Aos descendentes facilmente assumimos atitudes odiosas. As neuroses são descarregadas neles. Seria interessante concluir que os pais tivessem para com o filho primordial paciência e tolerância. Impor-lhes limites educando-os. Não é raro observar uma criança de dois anos de idade ou mais martirizando sua mãe, enquanto ela pede, explica, suplica, desespera-se para atendê-los.
Adultos são os seres mais importantes os mais interessantes também para a criança. Elas os conhecem melhor que eles próprios, porque os observam sempre em seu cotidiano. É difícil enganá-los. Estes estão sempre se mostrando muito ruins enquanto seres, são maus em seus sentimentos e tudo mais. Isto sem falar nas mães terríveis - que são quase todas – que envenenam e aniquilam os membros da família pelas exigências insaciáveis, e geralmente, através do autoritarismo implacável, cometem arbitrariedades desmedidas, sem limites, sem que ninguém se atreva a se opor, porque são mães e dizem saber o que fazem.
          Mãe não erra! A imbecilidade humana chega a ser hilariante. Elas chantageiam dizendo que irão morrer do coração. Matam os filhos ao cobrarem deles que sejam bonzinhos e que não façam absolutamente nada.
          Meu questionamento: “Será que alguém tem o direito de exigir que não se viva para que ela não morra? O que fazem as genitoras contra as filhas moça que querem namorar?” Há uma implacável perseguição – atualmente, nem tanto, mas tudo com horário marcado: “Quero você às vinte três horas em casa, nem um minuto a mais.” Eu gostaria de perguntar a essas mães: “O que suas filhinhas fazem depois das vinte três horas que também não possam fazer antes?” Nota-se que a preocupação não é com a filhinha, mas sim com o que os outros vão pensar.
            O pai alcoólatra ou ausente é o terror da família durante anos. Pai é pai, sabe com é! Não se pode criticar, nem sair de casa, coitado, como é que ele ficará... Quase ninguém tem coragem para fazer-lhe o que dará mais prazer, a criança é o melhor pretexto do mundo para que as pessoas mantenham ligações pessoais. Tais explicações invariavelmente são: “Não largo meu marido ou minha esposa por causa dos meus filhos.” Irresponsabilidade, essa atribuída aos seres adultos chegam a causar náuseas. Sumariamente, ninguém faz o que diz e nem quer, principalmente os pais.
          Na família o que é ruim a gente esquece. Fica somente a imagem socialmente aprovada da infância feliz. Pouquíssimas vezes crianças foram bem aceitas e bem tratadas neste mundo. Se assim fosse, nosso mundo não estaria sujeito à aniquilação. Quando se apresenta alguns bons prazeres com a vida, principalmente na vida amorosa, não pode odiar a vida, as pessoas e o próprio mundo agem, como se ambos fossem todos inimigos.
          Dentre as várias formas de violência a que são submetidas às crianças e adolescentes, a violência familiar é caracterizada como um abuso do poder disciplinador e coercitivo dos pais ou do responsável. E no caso de separação dos pais implica outro fenômeno: “A Síndrome da Alienação Parental”, que é o afastamento do filho de um dos seus genitores. Isso acontece quando um dos pais, após a separação, manipula a criança para que ela odeie o outro. E para isso acontecer, o alienador mente e manipula a criança. Tudo para afastar o filho do ex – parceiro ou ex-parceira. Alienação parental é um fato mais comum do que nos é informado. Traz seqüelas emocionais e comportamentais para a criança futuramente, principalmente no desempenho escolar. É uma forma de violação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.
          Contudo, a violência contra a infância é ainda um problema de pouca visibilidade e difícil de ser quantificado, na medida em que a maioria dos casos nem sequer chegam a ser denunciados. Em razão da atualidade do tema, enquanto pesquisa. As dificuldades de dados estatísticos nessa área são justificadas pelo fato de que esse tipo de violência costuma ser encoberto pela lei do silêncio dos envolvidos.
          Portanto, como não há muito pelo o que viver, muitos pais encontram nos filhos um motivo principal para a sua existência. Que por sua vez, precisa carregar este fardo até o fim de seus dias, o peso de suas frustrações e a obrigação de realizá-la de alguma forma nos filhos. Na verdade, são os filhos que transportam os pais, suas desilusões, ressentimentos e amarguras. Tendo em vista, que estatisticamente, as maiorias dos atos violentos são cometidas atualmente por pessoas com menos de vinte anos, isto é, por adolescentes. Em muitas famílias onde as crianças são castigas fisicamente e emocionalmente, com certeza vão desenvolver comportamentos agressivos, com possibilidade eminente de ocorrer escravidão, homicídios freqüentes, torturas e o cultivo da inferioridade da mulher. É nesse ambiente que se forma o machão e a mulher objeto.
Contudo, fica claro que a troca de carícia e afeto é a melhor solução de todas. Através dela alcançamos a excitação do centro de prazer do cérebro e isso é um desestímulo à violência. Conforme observa o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa: “Já que não temos o prazer de viver, vamos ter o prazer de morrer”.

13 de abril de 2011

O EMERGIR DO PARAÍSO

O ser humano não é um evento completo. Ele é uma somatória de acontecimentos passado e presente. Como disse Erik Fromm, “o nascimento não é um ato. É um processo”. O nascimento é, portanto, apenas o começo em um sentido mais amplo. A vida inteira do ser humano nada mais é do que nascer, a cada momento para uma nova situação. Na verdade, só deveremos ter nascido completamente com o advento da morte.
Segundo Erik Fromm, o homem é o único animal que pode sentir-se aborrecido, ao sentir-se expulso do paraíso.  Ele é o único animal que considera sua existência um problema e precisa ser resolvido e do qual não pode escapar.
O problema que tanto o ser irracional quanto o homem precisam resolver é em relação ao seu nascimento. No aspecto físico, não é tão decisivo e singular como parece. A mãe e a criança na gestação é um fenômeno único. O que acontece no momento do nascimento é uma importante passagem da vida intra-uterina para a extra-uterina, no qual a criança em alguns aspectos não é após o nascimento, que ela se torna bem diferente do que era antes de nascer. Esta depende completamente da mãe. Entretanto, o processo de nascimento continua. Agora são duas pessoas, porém, uma depende completamente da outra.
Fazendo um paralelo com o mito do paraíso bíblico, o qual fala da expulsão do homem com perfeita clareza. O ser humano que vivia no Jardim do Éden, em completa harmonia com a natureza, mas sem autoconsciência, assim como, o feto no útero da mãe. A partir do momento em que ele é expulso, inicia-se a sua história pelo primeiro ato de liberdade. Aos poucos adquire a consciência de si mesmo, de sua separação, de seu desamparo. Quando o homem nasce, ele é arrancado de uma situação já definida, tão logo seus instintos são lançado numa nova situação ainda indefinida, incerta e aberto.
Contudo, se a criança pudesse pensar, no momento em que o cordão umbilical lhe é cortado, ela certamente experimentaria o medo da morte. Ela saiu da natureza, por assim dizer, mas ainda está nela, é em parte divino e animal, em parte infinito e em parte finito ao mesmo tempo. No entanto, na medida em que o ser humano também é um animal, as necessidades como: dormir, fome, sede e sexo são neles igualmente imperativos e devem ser satisfeitas. Mas enquanto ser humano, a satisfação dessas necessidades instintivas não é suficiente para torná-lo feliz, muito menos para fazê-lo mentalmente sadio.
Na natureza o sexo e a reprodução são naturais e não problemáticos para todos os animais com exceção do homem. Veja como é simples. A fêmea entra no cio, o macho é atraído por ela, acasalam-se e a espécie é preservada. Nada podia ser mais simples. Agora compare isto às tensões sexuais existentes entre os seres humanos: “a adolescente que espera a atenção do garoto, sentindo-se ignorada e pouco atraente, o garoto que não pode concentrar-se em seus estudos, acariciando a idéia do suicídio porque sua namorada rompeu com ele; a jovem solteira que engravidou e, o namorado não a quer mais mesmo assim, ela não aceita o aborto. Porém, não está certo sobre qual outra opção tomar. Da mesma forma, a esposa profundamente deprimida porque o marido a deixou por outra mulher mais jovem e bonita.
As vítimas de estupro, os produtores de filmes pornográficos, os adúlteros furtivos, a promiscuidade sexual. O sexo simples e direto para os animais torna-se tão doloroso para nós humanos - a menos que nos comportemos como os animais – pois conhecemos o mundo do bem e do mal. Ao mesmo tempo, porém, exatamente por vivermos neste mundo, possuirmos uma relação sexual que pode significar mais para nós, do que para os animais ou para alguém, que veja no sexo apenas um instinto a ser satisfeito. Ele poderá significar ternura, afeto mútuo, entrega responsável.  Já os animais apenas acasalam-se e reproduzem-se. Para os animais, dar à luz e alimentar os filhotes durante seu crescimento é um processo puramente instintivo. Existe muito menos dor física e muito menos dor psicológica no caso deles que no dos humanos. Entretanto, para os seres humanos, tal relação jamais poderá ser tão simples assim. Dar à luz a um filho, segundo as mulheres é uma das experiências mais dolorosa e sofrida que o organismo humano pode experimentar que em certo sentido, é a parte menos difícil. Criar e educar os filhos, transmitindo-lhes seus próprios valores, partilhando com eles as grandes e as pequenas mágoas, sabendo quando ser rude e quando ser condescendente. Parece ser esta a parte mais dolorosa da paternidade, porque temos que fazer escolhas difíceis. Sobretudo, por ser a única transformação que realmente nos humaniza e ocorre por força do amor. Somente o ser humano é capaz dessa consciência.   
Portanto, só aos seres humanos é dado o saber do que é o “amor”, com toda a dor que o amor às vezes envolve como dizia o poeta Vinícius de Moraes: “São demais os perigos desta vida para quem tem paixão”. Eu digo, para quem ama verdadeiramente com todo o seu ser.

11 de abril de 2011

SER FIEL É SER INFELIZ?

Todos conhecem história da “raposa e as uvas, da fábula de La Fantoni. Pessoas vivendo uma situação nada favorável e dizendo que está uma maravilha. A história do "limão doce", chupando limão e dizendo que está uma delicia. Isto acontece diariamente na vida de todos nós. Mas aqui vou me deter somente nas relações afetivas. 

Quando a gente encontra alguém que nos olha com encantamento, admiração, interesse e gosto, desperta em nós espontaneidade e solicita aproximação. Esse fenômeno tão natural nos seres humanos e tão presente no nosso dia a dia, seja solteiro ou casado. É só prestar um pouco de atenção para perceber quantos olhares recebemos e correspondemos diariamente. O que importa é o sentimento, a vaidade e o gosto pela vida que cada um tem. Por outro lado, existe uma moral que nos condena. Tudo que sentimos em relação ao sexo, parece que não pode ser falado. Na verdade a nossa educação recheada de preconceito consiste principalmente em nos proibir de falar dessas necessidades vitais. Desta sexualidade que aparece explicitamente em nosso olhar e por todo o nosso corpo. E o que fazemos? Fingimos o tempo todo.

É tão evidente que o amor vai e volta, mesmo quando se gosta muito de uma pessoa. Não são todos os dias que gostamos de ficar juntos. Há outros interesses na vida. Essa situação tem afrouxado os laços matrimoniais. Mas o que se observa é que as pessoas continuam ai sem se mexer. Talvez por força da tradição, da educação ou da pressão familiar, querendo mostrar um casamento ideal que nunca existiu.

Quando a relação a dois começa a esfriar vira uma cadeia fria. Não há mais interesse um pelo outro e curiosamente os dois percebem isso. Mas não podem e não querem fazer nada. Preferem ficar ai chupando o limão meio azedo e meio amargo, dizendo para os amigos que está uma delicia e que agora sou feliz.

As pessoas esquecem uma coisa importante. Quando estão morrendo numa situação que não têm sentido para elas, sua primeira obrigação é reconquistar a sua vida, isto é, seguir os interesses vivos que estão na sua frente, que lhe interessam. Podem ser uma pessoa, um curso ou um trabalho, como realização profissional. Ela tem que experimentar, para proteger a sua vida e continuá-la.

A essência da depressão é uma vida infeliz. Não tem nada do que se gosta algo que me faça bem, então, arrumo uma doença imaginária. Depressão quer dizer vida infeliz. A vida perdeu a graça, não tem mais sentido, nem motivação. O jeito é continuar a chupar o meu limãozinho e mostrando cara de feliz. Afinal, é isto que a sociedade espera de nós. Não quero dizer aqui que todas os indivíduos tenham relacionamento extraconjugal de fato. Alguns não têm. Mas posso afirmar que a maioria das pessoas são de uma cara de pau incrível. Em público todo mundo condenando, em particular a grande maioria fazendo. Todos fazem, mas ninguém assume. E quem ainda não fez de verdade, faz na fantasia ou na imaginação com toda a certeza.

Conforme o dia, todos nós gostaríamos às vezes de ser casado ou solteiro. Há momentos na vida que temos outros interesses em jogo. Precisamos de um tempo para refletir sobre, olhar a situação de fora e sentir se estamos no caminho certo. Nós somos muito mais caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos. Um dos enigmas para mim é que a vida real das pessoas não é flor que se cheira. Quando se fala dos seres humanos, é de uma santidade e honestidade que eu nunca vi no mundo. Nega-se a maldade e a infidelidade e elas aparecem por todos os lados.

Se for verdade que eu quero ser solteiro ou casado conforme a hora, isto quer dizer que nenhum dos dois estados é satisfatório. Devo dizer que as santas senhoras, maduras, é a própria virtude em pessoa, vão pelo mesmo caminho. Garanto que num cantinho do seu pensamento está lá seu ator de novela preferido, um moço bonitão, o coroa charmoso. Só de pensar já implica infidelidade, pois ela está sentido desejo por alguém. Tudo começa no pensamento.

As pessoas têm toda aprovação social para esmagar o infiel, o que traiu. E o pior é que ele reconhece em vez de perguntar: “Você também nunca pensou em outro? Se é que já não fez”. É comum, a pessoa que “pecou” – desconheço neste caso, quem nunca pecou. Ainda mais agora com o advento da internet. Quem não peca?


Portanto, uma vida sem amor é um deserto. Uma vida só de obrigações ninguém aguenta. São as vidas de obrigações que produzem as doenças graves. O que se espera da relação a dois é uma coisa completamente absurda. Promessas de felicidade total, ser fiel a vida inteira. As pessoas aguentam anos após anos esta situação. Verdadeiros camelos atravessando um deserto. O estado mais gostoso da vida é quando a gente se encanta com uma pessoa. E nós vivemos proibindo e negando isso. Até parece que todo mundo tem que ser escravo e viver infeliz, chorando pela vida toda. Se você é infeliz onde está. Com certeza, você está fora de lugar. Vá ao encontro da sua felicidade.

10 de abril de 2011

ÉTICA PARA QUEM?

Encontramo-nos atualmente em uma época de ambiguidades, falta de valores éticos, rapidez nas ações nos processos produtivos tanto quanto nos sentimentais, afetivos e sexuais. Parece permanecermos numa espécie de ressaca ética. Hoje o tudo é muita coisa e o sempre é muito tempo. Nada tem a obrigação de durar demais, e nada deve ser tão rígido que não possa ser moldado de acordo com novos valores, num mundo de arbitrariedade e insatisfação geral.
A palavra ética vem do grego, Éthos ou Êthos, que possui dois significados: “o caráter de alguém ou o conjunto de costumes instituídos por uma sociedade para formar, regular e controlar a conduta de seus membros”.  Nesse último sentido a ética confunde com a moral, uma palavra que vem da língua latina = Mores ou Costumes. Mas a ética não consiste apenas em seguir a moral e os costumes da sociedade. Ninguém será ético apenas obedecendo ao que está determinado pelos outros, pela moral dominante. Os costumes, os valores, o bem e o mal mudam. Estas dependem da circunstância, ou daquilo que o circunda à minha volta. Contudo, ética é atitude de colocar-se em dúvida, de questionar a moral e os valores. E neste conjunto de valores deve haver autonomia pessoal. Entretanto, a palavra autonomia vem do grego e quer dizer Autos que significa: próprio, si mesmo, nomos = a lei. Entretanto, autônomo é aquele que retira da lei para si próprio e são quem decide por si mesmo quais são seus valores. Desta em acatar uma norma, isto é fruto de uma reflexão pessoal consciente, que se chama interiorização.  A interiorização das normas que qualifica o ato como moral.
Se por exemplo, num colégio, alunos e professores chegarem à conclusão de que, durante o ano letivo, deverão relacionar-se segundo os princípios da solidariedade, cooperação, diálogo e da igualdade entre as pessoas. Então, todos estarão exercendo a ética e normas morais. Esta ação enfatiza e exterioriza o lado bom. Tais atitudes deveria haver sempre e em todos os lugares, entre pais e filhos, patrões e empregados, etc. Praticar a ética é democrático e as normas morais estabelecem o caráter democrático.
Cada pessoa é por si só um conjunto bem saturado de insatisfações, pressionados pelas normas da sociedade a que ela própria ajuda a manter, na mesma proporção em que tudo se transforma em mercadoria de importância vital. Assistimos conjuntamente o desmoronar dos valores éticos. O sujeito paradoxalmente frágil e perverso ao mesmo tempo, segue os tramites da dinâmica social na qual ser ético não oferece status.
Imagine o dilema vivido por um comerciante que contribui em todos os impostos e segue todas as normas de transporte e armazenagem dos produtos por ser estritamente ético com as leis trabalhistas. E por outro lado, vê seus concorrentes que impunemente sonegam os mesmos, burlam as normas técnicas e, contudo, tem produtos e serviços com preço menor para o consumidor, consegue, portanto, aumentar as margens de lucro. Jogam sujos, trapaceiam o tempo todo e perde quem segue as regras, que não quebra os protocolos da lei. 
O homem contemporâneo cada vez mais assume o lugar do príncipe de Maquiavel, que na defesa das suas próprias ambições e paixões materiais tudo é possível, comporta-se como se estivesse numa espécie de jogo onde o interesse central é ganhar sempre. As dinâmicas sociais deixam cada vez mais claro que ser ético é perder poder. Todos agem em prol da própria conservação e dos interesses pessoais. Usando a celebre frase de Tomaz Hobbes: “o homem é o lobo do homem”. Para Hobbes o estado natural do homem é o de guerra de todos contra todos. Logo, o sujeito não tem uma disposição natural para viver em sociedade. O que contraria a tese de Aristóteles que dizia que o homem é um animal social. Segundo Hobbes o homem não possui instinto social como as abelhas e as formigas. Elas não competem por honra e dignidade. Não distinguem bem individual de bem comum, não se julgam mais sábias que as outras, não são maledicentes, não se ofendem por escasso, etc. 

Portanto, para o homem, ética e convivência são valores conflitantes. E o que fazer quando nos vemos diante desse impasse cada vez mais freqüente nas relações interpessoais?  

8 de abril de 2011

A UTOPIA DO PROFESSOR

Os estudos comprovam a cada ano através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que mais de um milhão de jovens, com idade entre 12 e 17 anos, não sabem ler e nem escrever. Conseqüentemente esse agravante tem como base às leis que asseguram, através da Constituição Federal, o direito a todos os cidadãos ao estudo, mas estas leis não são capazes de garantir uma política educacional eficiente com escola de qualidade para qual o jovem se sinta atraído. Os indicadores são mais que suficiente para mostrar o descaso pela educação no país. A desvalorização ética e a falta de respeito para com o professor. Principalmente, o descaso do Estado em relação ao salário desses profissionais.

Temos acumulado reproduções de modelos, e estas nos têm afastado, historicamente, da realidade, anulando potencialmente o desenvolvimento da capacidade de criar. É importante que os professores entendam os desafios da educação que não são os mesmos dos governos, que visam à manutenção do poder. Em vez de ficarem discutindo com a direção da escola sobre a disciplina dos alunos, os quais pouco se preocupam com os educadores. A categoria precisa ser mais unida e não participar do intento governamental. Na verdade, ele espera um professor vacilar para colocar a sociedade contra o professorado. 

Conforme aconteceram em anos anteriores.  Em novembro de 2004, a professora Tânia de Araújo Costa trabalhava em Nova Odessa, cidade no interior Paulista. Transformou-se em notícia nacional do dia para a noite. Todos os refletores da mídia a focalizaram enquanto professora, por conta de um aluno indisciplinado cuja mãe irresponsável demonstrou não conhecer o próprio filho.
O fato este ocorrido no dia 12 de novembro daquele ano. O garoto de sete anos na sala de aula juntamente com os colegas; às 18 horas com a escola vazia, o garoto sozinho, disse estar de castigo. Devido a esse fato iniciou-se um processo administrativo para a educadora, a fim de apurar os fatos e punir o culpado. Durante o inquérito ficou provado que não fora a professora responsável pelo ocorrido. Revelou-se, portanto, ter sido o aluno por si só, e com medo de ser punido pelos genitores, resolveu permanecer escondido na escola e acusar sua professora, Tânia, na época.  A mídia devido à desse episódio contribui para depreciar a reputação dos professores. 

Publicaram ser comuns educadores torturarem psicologicamente alunos em sala de aula. Após a professora ter sido inocentada, a mídia se quer deu o direito de resposta, para que ela pudesse retratar- se. Perante a opinião publica, Tânia      continua sendo a “tia vilã”, que põem crianças inocentes de castigo.
Tornou-se comum caso de desrespeito contra o professor e a Educação. Outro episódio dessa natureza se deu em Belo Horizonte. Um estudante processa a escola e o professor por tirar notas baixas, alegando danos morais. Segundo o aluno, passou a noite estudando, portanto, não achou correto o professor ter dado uma nota baixa. Razões essa que culminou num processo contra o mestre. Em nenhum momento questionou-se o conhecimento desse aluno. Parece haver uma inversão de valores. Uma lógica perversa por trás dessa violência e desrespeito que vem assolando os profissionais da Educação.      
O professor precisa compreender e romper com essa falsa lógica. Rejeitar a cultura da descrença e construí-la dentro de si, como ação política, de crença e esperança. Perceber que o pensamento cada vez mais está sendo dispensado pela massa, e privilegiado pela classe dominante. O maior exemplo desta constatação é o sistema educacional brasileiro. O indivíduo que pensa, questiona e duvida, diverge de determinações pré-estabelecidas e optam pela informação. Torna-se, portanto, um sujeito consciente, será perigoso para quem detém o poder.
O ensino brasileiro precisa mudar? Penso que sim. Discute-se frequentemente a respeito do processo educativo.  Há aqueles os quais defendem os discentes outros, o educador. Ainda existem aqueles favoráveis ao conteúdo. Acredita-se que no centro do processo educativo esteja um projeto social. A sociedade brasileira nesse sentido torna-se democrática e cidadã, fundamentada na igualdade entre os indivíduos e no respeito. Conforme o filósofo francês, Jean Jacques Rousseau, analisou as razões das desigualdades sociais. Segundo ele, o ser humano é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe gerando a desigualdade, escravidão e a tirania.
Por outro lado, o Ministério da Educação é quase que exclusivamente, uma obrigação com a instrução. O discurso do ministro é técnico. Nem o governo nem a igreja tratam seriamente a questão da educação, no sentido verdadeiro da palavra. O governo interessa-se pela instrução técnica e a igreja limita-se à simples moralização. No entanto, não se observa avanço em nenhum dos seguimentos. A instrução e a moralização tornam o homem realmente melhor.
Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden, argumenta no seu livro “Educação do Homem Integral” instrução torna o homem erudito, meio robotizado, só serve para si mesmo. A moralização torna o ser humano altruísta. A erudição e o altruísmo não são ensino verdadeiro – não passam de condicionamento psíquico. Altruísmo é uma forma de egoísmo sublimado, aquele que espera recompensa após a morte. A erudição torna o homem técnico e conteudista. O homem realmente educado é bom, ele não espera recompensa por ser bom, nem no presente e mesmo após a morte.
Portanto, o governo e a igreja tiveram sua culpa por omissão. Limitaram-se aos fatos, não se interessaram pelos valores. Estudos revelam sem valores, não há educação. Verdade, justiça, amor, respeito e honestidade são valores, criação da consciência crítica, e não simples descoberta da ciência, nem altruísmo moral. Albert Einstein disse “o homem da ciência, descobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo”.                                       

7 de abril de 2011

A EMANCIPAÇÃO DA MULHER

       Dizem que o homem quanto mais machão, mais dominado é pela mulher. Talvez seja porque a mulher moderna preocupa qualquer homem observador e de boa imaginação.
       Penso que tudo começou com a industrialização, quando a máquina transformou a necessidade de ser forte em vez de ser inteligente e hábil. Com a segunda Guerra Mundial, quando foi atingido o parque industrial, a mulher entrou definitivamente no mercado de trabalho. Teve acesso a esta fonte de poder. Poder ao qual me refiro, não é fonte de mando, é fonte de possibilidade. A mulher se emancipou, tornou-se ela mesma.
       Como argumenta o psiquiatra Paulo Gaudêncio: “Estamos agora numa fase em que a mulher está aprendendo a comer melado para comer sem se lambuzar”. Mas a meu ver a mulher foi durante algum tempo, bem treinada pelos pais para ficar boazinha. Principalmente os pais autoritários frente uma filha mais tímida ou uma mais dócil, marca profundamente essa autoridade. Quando a mulher torna-se obediente, pessoa contida que pouco aparece não se manifesta, ela encontrará fatalmente alguém que irá dominá-la.
       Certa vez ouvi de uma menina de quatorze anos, que com fofocas de vizinho, falou-se que ela estava namorando e parece que não havia se quer nada de concreto na história. Ela só estava na mesma casa, possivelmente do outro moço em visita. Por causa de uma fofoca a menina levou a surra da vida dela, ficou com equimose por todo o corpo.
       Outra moça com quase trinta anos, apanhou até os dezoito anos, cada vez que chegava tarde em casa, mesmo que só estivesse com amigas. Um bom pai, preservando a honra da filha, o nome da família a custa de paulada. Ainda hoje existem pais assim, geradores de violência, convictos de que estão fazendo certo. Espanca a filha e prepara para todas as desgraças que vem depois.
       Eu só posso concluir, que a nossa educação é realmente feita, para quebrar qualquer personalidade. São as pessoas que perseguem pessoas. É na família que se forma o opressor e oprimido, o machão e a submissa, a mulher objeto. Isso sem falar que o macho padrão é muito precário, tem pouco interesse no lar, se entende mal com criança, não trata muito bem a mulher. Tudo isto formado dentro da família, mais precisamente na infância. A educação que garotos e rapazes recebem é mesmo para agir segundo um modelo machista, certas tarefas são especificamente femininas e outras tantas masculinas. Se uma mãe percebe um garoto brincando com bonecas e se interessando por afazeres domésticos, fica preocupada. Acha que deve haver alguma coisa errada com ele, isso quando não expõe o garoto a vexames perante seus coleguinhas. O mesmo acontece com meninas que se metem a jogar futebol com os meninos e a participar de suas brincadeiras mais violentas. Logo alguém lhe chama atenção. Sempre o pai garantindo a boa educação do filho. Depois que casa a esposa garante a história infeliz.
       Uma senhora de cinqüenta anos me contou a sua história, que era uma catástrofe do começo ao fim. O melhor exemplo que encontrei naquele momento era de uma relação de sadomasoquismo.
       Um homem rico, porém pobre de espírito, que achava que pagando podia oprimir as pessoas. Era ele quem pagava as despesas da casa. Minha pergunta é: ”por que uma mulher de cinqüenta anos fica dentro de um casamento infeliz, agüentando todos esses anos?” Uma mulher que tem posses. Como ainda tem pessoas que terminam nessas situações infernais e ruins.
       Cada dia me convence mais, de que os atritos familiares são as principais causas que enchem hospitais de doentes. Porque persiste por muitos anos, o caso desta senhora ilustra bem, trinta e poucos anos de casada, desde o começo era saco de pancada. Que o marido seja estúpido não é de se estranhar, tem muitos, que ela agüente já é um dado preocupante. Ela já estava preparada, a filha bem educada pelo pai severo, que passou direto para o marido, convidando aos abusos.
       Tenho participado de grupos de estudos, conferencias e coisas desta ordem. E vem surgindo um fato novo. Os homens andam fugindo da raia das mulheres porque elas estão muito melhores do que eles. São mais decididas, querem saber, estudam, fazem cursos. E eles cada vez mais encolhidos no seu canto, achando que sabem tudo.
       A mulher também está se tornando livre do ponto de vista profissional. Uma mulher moderna, razoavelmente bem sucedida na vida, independente, bonita e inteligente, de certo modo assusta os homens. Porque a maioria deles não tem tanta competência assim e nem maturidade para tanto. O machão latino, não tem coragem de ser propor ou de casar com mulher que ele sente que é superiora a ele. Ainda hoje conheço mulher com grande potencial intelectual que se casou, não digo com homem incompetente, mas, homem mais comum com pouca formação escolar e muito autoritário. Ela submete-se inteiramente, para que ele não se sinta ferido no seu amor próprio. Talvez esteja aqui, o começo de todas as loucuras humanas. Deixar de ser eu mesmo, para ser o que o outro quer. Lembre-se, viver com medo é viver pela metade.
       Aprendi que o tempo nunca volta atrás e o futuro inventa novas emoções. É melhor fazer alguma coisa ao invés de não fazer nada. A primeira obrigação é reconquistar a minha vida, isto é, seguir os interesses vivos que estão na minha frente. “E agradecer a todos os deuses dizendo: que maravilha estar aqui, como é bom viver, como é bom ser Eu mesmo”.

5 de abril de 2011

A MANIFESTAÇÃO DO AMOR

O amor é uma força ativa no ser humano, uma ação que produz mudanças numa situação existente pela energia humana que nela é empregada. Não é um afeto passivo. É um crescimento e não uma queda. O amor é doação, é um entregar-se, antes dar que receber. Dar sem a exigência da troca, da retribuição. Dar sem sentir lesado, empobrecido. Amar não é cobrar do outro amor. Se há cobrança não pode se dizer que ama. É simplesmente um gostar de mim no outro. Estou projetando nele a minha necessidade, ele me é conveniente naquele momento. Isto não é amor e sim paixão. Idealizo o outro e moldo de acordo com os meus interesses.

Ao dar amor colocamos a prova nossa força, a expressão de nossa vitalidade. Damos aquilo que temos de vivo em nós que é: a alegria, o interesse pela vida, a compreensão, o bom humor, o conhecimento e até as nossas tristezas e angústias.

Entretanto, a partir dessa expressão natural, ocorre a manifestação do amor por todo o meu corpo, por todo o meu Ser. Ao mesmo tempo enriqueço a outra pessoa com o meu gesto de afeto e ternura.

Esta comunicação muitas vezes não é verbal e sim fisiológica. Nesse momento do encontro é liberada no cérebro uma substância química chamada beta endorfina, que tem muito a ver com o comportamento de proximidade, contato físico, abraços, carinho e carícias. Faz-nos sentir próximo e também nos acalma. O nosso corpo é um instrumento de comunicação mais verdadeiro, quase nunca consegue disfarçar suas reações emocionais. No corpo tudo aparece. Basta olharmos com atenção para as pessoas que logo saberemos o que estão sentindo, querendo e experimentando. Se as pessoas negassem menos os sentimentos que sentem, com certeza sofreriam menos. Mas nega-se tudo que é bom para a alma e prazeroso para o corpo. Tocar com carinho não pode, mas bater pode, sentir prazer não pode, mas xingar o outro e fazer fofoca pode. Estamos sempre predispostos a maltrar outro e nos moltrar também. Afinal, o sofrimento é de ambos. 

Cada vez mais estão aparecendo livros interessantes, mostrando a importância fundamental das emoções na vida. Não só as emoções negativas que produzem praticamente a maioria das doenças. Mas as emoções positivas que trazem a saúde, a felicidade e a alegria.

Quando se está encantado com alguém, a melhor coisa do mundo é estar junto o maior tempo possível. Não só porque é muito bom, mas porque nesse período estão ocorrendo trocas vitais, extremamente importantes entre as duas pessoas, que são sentidas e experimentadas no corpo. Quando a gente encontra uma pessoa que impressiona bastante é muito importante ficar perto dessa pessoa e chegar o mais que puder. Porque na verdade, quem eu amo é o meu Guru. É com esta pessoa que tenho que aprender coisas na vida ou trocar coisas na vida. São as necessidades vitais, importantes, fundamentais para a sobrevivência humana.

Usa-se com certa freqüência uma couraça muscular, que torna as pessoas indiferentes a tudo o que vêem e sentem. O termo desmascarar significa dizer para essas pessoas que o que elas estão mostrando não é o que estão sentindo. Fala-se de um jeito e se mostra de outro. Digamos que estou numa sala de espera, onde posso controlar várias câmeras de vídeos, sem que as pessoas ali presentes percebam. Vou filmar as caras com as pessoas se entreolhando e depois as caras com que fazem fofocas, com seus acompanhantes, sobre o que viram no outro. Pronto o filme, convido as pessoas filmadas a se verem. Com certeza vão ficar muito surpresas com os seus olhares astutos, expressão de desprezo que demonstraram um pelo outro. Na verdade sei o que sinto, mas não sei o que eu mostro. O outro não sabe o que eu sinto, mas sabe o que eu mostro. Sempre ficamos com o que vemos no outro. Só não sabemos o que mostramos para o outro.

Para amar é preciso existir um objeto de amor, que neste caso é o outro. O amor é algo que eu sinto a partir do outro. Logo preciso exteriorizar através do contato, da carícia. Só posso aprender a amar experimentando. Descobrindo a divindade no outro. Ninguém é feliz sozinho. É preciso começar a trocar mais abraços, carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque não fica bem mostrar bons sentimentos. Quando se agrada alguém, da mesma forma está se querendo reciprocidade.

Portanto, o amor deixa de ser sentimento único, como o narcisismo ou como libidinal. Qualquer pessoa normal sente necessidade imperiosa de amar. O primeiro passo é tomar consciência de que o amor é uma arte, assim como viver é uma arte. É preciso tornar-se explícito o que está implícito. Contudo, o amor nos toca, nos acaricia e se revela na gratificação sensual com o outro. Viver e Amar constitui-se para a espécie humana num mistério, que muitos transformam num problema.        

3 de abril de 2011

A CAVERNA NO MUNDO ATUAL

Passou-se mais de 23 séculos do pensador grego Platão, considerado um dos pilares do pensamento ocidental. Uma das maiores contribuição da sua filosofia nos foi apresentada no texto intitulado o Mito da Caverna. Segundo Platão, a maior parte da humanidade se encontra como prisioneira de uma caverna, permanecendo de costa para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Devido a uma luz que vêm de fora, os prisioneiros contemplam na parede do fundo suas sombras que compõem a realidade. O problema maior é que, acostumados a ver apenas essas projeções, as pessoas tomam essa ilusão como se fosse à realidade. Algumas dessas pessoas, habitantes da caverna, consegue sair e depois de acostumar-se com a luz, enxergam a realidade dos fatos, o mundo com mais clareza, com lucidez e não mais as suas sombras.

Essas pessoas, segundo o mito, teriam dificuldades em conseguir convencer os moradores da caverna de que aquilo que tomam como realidade, não passa de meras sombras, ilusão, isto não é um conhecimento verdadeiro.

Para Platão, essa tentativa de voltar à caverna para resgatar as pessoas das sombras é um trabalho árduo para o educador. Tendo em vista, que cada vez mais está aumentando o número de cavernas criadas por nós mesmos.

O saudoso escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de literatura, nos seus livros: “O Ensaio sobre a Cegueira” e “A Caverna”, aponta para o fato de que todos estão enclausurados nas cavernas da indiferença, da insensibilidade e da incapacidade de ver e enxergar o outro interiormente.

Com o advento da informatização produziu nas últimas décadas o fenômeno da virtualização da vida cotidiana. Para o professor de filosofia Mauro Sérgio Santos da Silva, a produção cultural, o sistema político, a economia, a ética, as relações entre as pessoas e as emoções se tornam cada vez mais virtuais e menos reais.

A chamada globalização é outra caverna aparentemente sem fronteiras que se apresenta como único e necessário. Assim, como também os programas e noticiários de TV, constituindo-se em uma caverna que aprisiona e ofusca a visão da grande maioria da população. Esses notáveis meios de comunicação apresentam um espetáculo de sombras e ilusões que, sob a máscara da pretensa imparcialidade da imprensa, afiguram-se como a realidade dos fatos.

Vivemos uma pseudo-democracia brasileira, cada vez mais parecida com o sombrio modelo norte-americano. Os discursos e as propagandas dos políticos, tanto como o de situação ou de oposição, manipulam a realidade segundo seus interesses e necessidades, levando-nos a crer que estamos em uma enorme caverna sem saídas. Fato esse que conduz ao conformismo, ao pessimismo e à apatia. A indiferença das pessoas. Um número cada vez maior de cavernas por nós edificadas, por falta de lucidez. Fechado num mundo de sombras e acreditando que isso seja a realidade.

Portanto, é através da Educação e na busca constante do conhecimento, que vamos encontrar um caminho para a saída de tais cavernas. Isto evidentemente a custo de muito esforço. A menos que para muitas pessoas o interior da caverna seja mais cômodo, confortável e seguro. Diz sabiamente um adágio latino: “Se é feliz com a ignorância é loucura tornar-se sábio”.      

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...